segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Apenas um começo.

Hilário o que o tempo faz com as pessoas. Eu estava andando com meu Porsche 964, me distraindo, tentando encontrar inspiração para escrever, que a muito eu perdi. Então eu paro num sinal, ajeito meus óculos escuros e o espelho, havia um Hummer logo atrás do meu velho Porsche, e vinha uma movimentação meio estranha do motorista do tal carro.


O vidro do Hummer estava refletindo a luz do sol, então forcei um pouco a vista para entender que movimentação era aquela. O motorista, de jaqueta Jeans com as mangas rasgadas e uma camisa branca por dentro fazia provocações a mim.

Sai do carro, dei o último trago no cigarro e o joguei no Hummer do tal cara, e bati na janela na sequência pedindo uma explicação, e algumas palavras saíram dali de dentro enquanto a janela baixava.

Joh Johnny, ainda insiste em dirigir essa lata velha?

O motorista desse carro modesto era um velho amigo da escola, Fred, que está a caminho de se tornar um ícone do rock contemporâneo, mas isso no sentido histórico, porque ele já vive uma vida de lenda do rock, que era o que realmente importa para ele.

Paramos para conversar e ele me falou que estava indo uma "festinha" particular que ele ia fazer em uma de sua casa, e reconhecera o carro que eu havia ganho logo ao terminar os estudos. E me intimou ah ir com ele para essa tal "festinha".

Segui o seu carro até um estúdio de tatuagens, onde ele desceu com mais 1 amigo e mais 3 mulheres do carro. Sai do meu, e fui ao encontro deles. Fred estava indo remarcar uma tatuagem que tinha marcado para quede fim de tarde, mas como não poderia ir pois tinha uma festa que já estava acontecendo em sua casa.

Quando entramos no estúdio, havia algumas pessoas olhando revistas, tentando escolher seus desenhos, o doce som da máquina de tatuar, e percebo uma recepcionista sentada, organizando uns papéis, bonita, magra e seios fartos, cabelo escuro caído meio ondulado, levantou o rosto e olhou para mim.

Antes do sorriso percebi um piercing no canto do lábio superior, estilo Winehouse, e então veio o sorriso e algo que me assustou no momento.

Johnny! — Falou ela com muito entusiasmo. Percebeu minha cara de espanto e continuou — Você não me conhece, mas eu conheço você. Prazer, me chamam de Paula.

Continuei achando suspeito a forma com que ela me tratava… na verdade, não era eu quem tinha ido até o estúdio, e sim o Fred, mas ela me atendia como se fosse eu quem realmente precisasse atender.

Ela me mostrou fotos, falou de uma possível tatuagem que ela estava com vontade de fazer, mas que faria só prós próximos meses, disse que minha pele era perfeita para tatuar, por ser branca, perguntou se eu não queria fazer um acordo com os tatuadores e fechar um braço de graça. Então falei que ia pensar na proposta, e perguntei se ela tinha piercing só no lábio, ela disse que não, levantou o cabelo e mostrou as orelhas, e disse que tinha no umbigo e no peito.

Fred a interrompeu, perguntando algo sobre a tattoo que ele havia marcado, e sobre uns piercing. E então distraiu a atenção que insistia em manter em mim, então dei uma olhada na loja. Fred se despediu de todos da loja e foi em direção a saída com o amigo e as 3 mulheres, eles saíra, e eu já estava perto da porta, quando decidi voltar. Pus a mão no bolso e tirei meu cartão e entreguei a Paula, a balconista, e disse para ela me ligar qualquer coisa.

Segui o Hummer dele novamente até fora da estrada, onde entramos mais a fundo, até chegar a casa.

Entrando, já dava para ver um DJ jogando altos sons frenéticos, umas garotas com os quadris seguindo a batida, outras na piscina. Ali, poucos homens por onde minha vista passava, coqueteleiras giravam no ar, e aquela velha fumaça suspeita no ar, daquela boa e velha erva.

Enquanto passava o olho na galera, duas mulheres me chamaram atenção, que já não era de hoje. Uma, morena branca com o braço fechado, e a outra sempre pintava o cabelo de cores fora do normal, e agora era em parte curto, em parte grande, numa mistura de branco e um leve lilás, o problema é que desde a época do colégio, todos sempre diziam que elas e seus namorados terminariam se casando, mas a de cabelo curto e branco — Que se chamava Flávia — estava desacompanhada, então fui ao seu encontro.

Não esperava que ela me recebesse dessa maneira, mas ela segurou a conversa, que durou um bom tempo, falamos sobre muitas coisas, inclusive sobre seu namorado — Na época, ele era aquele cara mal, todos evitavam brigas com ele, talvez pelo fato de ser grande —. Ela contou que terminará com ele ah exatamente um mês, e que ele também havia sido chamado para aquela festa, e que devia estar a caminho.

Ela falou sobre seus casos com meninas, e que dali por diante, só iria se interessar por mulheres, que no fundo, a satisfaziam melhor do que os homens. Citei que ela talvez não tivesse encontrado o cara certo, ela pareceu querer contestar minha citação, que infelizmente foi muito clichê — e uma coisa que nunca fui adepto, são coisas clichês — e então completei dizendo que a maioria das mulheres não conseguem se satisfazer com os homens porque não conseguem relaxar o quanto é preciso, pois no sexo, quando não se relaxa, ou quando ah algo na mente que impeça que um dos dois relaxe o máximo possível, não da certo; e a maioria das mulheres falham nesse ponto com a desculpa de tentar satisfazer o outro, entre outras desculpas por não conseguirem relaxar. Ela concordou comigo em relação a isso, mas disse manter sua idéia quanto a preferência em mulheres.

Nos separamos casualmente em direções diferentes, eu para os destilados, e ela para o lado das outras mulheres. "Com que intenção ela está indo falar com as outras mulheres?" Fiquei pensando, mas me deixei esse pensamento escapar quando o Fred veio com mais um outro cara que o rosto não me é estranho, deveria ser um dos amigos do Fred na escola, eles me pegaram pelas pernas e me arrastaram para piscina, molhando meu celular e minha última carteira de cigarros.

Sai da piscina com meu Jeans e meus coturnos ensopados, assim como a velha camisa preta de botões e manga cumprida. E fui procurar uma toalha. Antes disso passei no bar e peguei mais duas doses, percebendo que começavam a fazer efeito, fui a procura de uma toalha, enquanto, com sucesso, acendo um cigarro molhado da minha carteira.

Entro em um dos quartos decidido a ir embora dali para outro lugar, qualquer lugar, e vejo a Flávia sozinha no mesmo quarto, mas vou ao que importa, tiro minha camisa e meus coturnos ensopados, e pego uma das toalhas a fim de me secar, beber o quanto meu subconsciente mandasse e ir embora na sequência. Percebi ela chegando perto.

— Tensa essa situação com seu ex por aqui.

— Nada… Dessa vez foi definitivo, não volto mais com ele, não tem nada que me faça fazer isso.

Fiz uma cara de quem duvidava, pelo que já havia acontecido antes.

— Mas dessa vez é definitivo, tudo bem que é a terceira vez que eu termino com ele, mas digo com certeza que dessa vez é definitivo.

— Como quando terminou da segunda você me confirmou que não voltaria. Mas espero que faça o que for melhor para você.

Ela concordou com a cabeça. E chegou mais perto colocando outro cigarro na minha boca e acendendo com o dela, se mantendo na proximidade de quem ascende o cigarro do outro daquela forma.

— Estou indo para casa, tenho um livro terminar, que eu ainda nem comecei. e como você sabe, agora eu sou um escritor, que não está conseguindo escrever no momento… mas é só um bloqueio do momento, assim espero.

Ohh… não vá não… Fred sempre libera o pessoal a dormir por aqui, mas ninguém vai dormir, só eu, o Fred e a namorada, e mais um casal… fique por aqui, não queria dormir aqui só…

Puta merda, se não fosse o ex dela, que continua sendo grande, e mal, eu ficaria ali aproveitando a noite de todas maneiras possíveis só com ela… mas alem do ex dela está lá, ele sempre foi gente boa comigo, mesmo eu sabendo que ele não é o tipo de cara que se deva confiar.

Dei umas desculpas para ela, convencendo-a de que eu realmente deveria ir embora. Ela concordou e pediu meu número. Falei meu numero, ela repetiu o numero e disse que lembraria.

Então vesti minha camisa úmida e coloquei meus coturnos, e fui pro meu carro. Mas antes disso passei na mesa no meio da sala principal da casa, onde havia um acumulado de pó, que todos chegavam e se serviam, fui me servi daquele pó e fui dirigir sem rumo por ai, com Portishead tocando no rádio, as luzes da noite brilhando sobre minha cabeça, refletindo sobre a vida meio sem rumo que eu ando levando, entre outras coisas…

Mesmo assim não me deixo abalar, não profundamente… mas continuo nessa vida sem rumo… tentando identificar um, não um fácil, nem um difícil. Mas um que realmente tenha um realmente para mim…


Nenhum comentário:

Postar um comentário